Atualmente cerca de 25% das emissões de CO2 ligadas à matriz energética mundial são provenientes do setor de transportes. A preocupação é que as emissões do setor estão crescendo mais do que em qualquer outro da economia global. Espera-se que até 2030 as emissões causadas pela queima de combustíveis fósseis aumentarão em um terço.

Dentro desse cenário, cerca de 60% dos planos do Acordo de Paris (nas chamadas Contribuições Nacionalmente Determinadas) propõem medidas específicas de mitigação para o setor de transportes. O foco principal é no transporte utilitário, com ações de transporte público (como ônibus) em segundo plano.

A solução para o dilema recai sobre o avanço dos carros elétricos mais do que em motores mais eficientes e maior produção de biocombustíveis. A longo prazo, o uso desses veículos pode contribuir na diminuição de até 50% das emissões em 2050, em comparação a 1990.

E como são esses veículos elétricos?

Veículos elétricos contam com um sistema de propulsão de motor que pode ser conectado para recarregar baterias que fornecem a energia para o automóvel. Existem dois tipos de veículos elétricos:

  1. BEV ou veículos elétricos de bateria: utilizam apenas baterias para armazenamento de energia e devem ser conectados para serem recarregados.
  2. PHEV ou veículos elétricos híbridos plug-in: possuem baterias e sistemas de armazenamento de combustível líquido. Eles podem ser conectados ou reabastecidos com combustível convencional para aumentar a energia do veículo.

 

A média de autonomia dos carros BEV é de 200 km, mas já existem modelos que apresentam resultados melhores. O Tesla Model S  tem autonomia de 400 km e o BYD E6 tem cerca de 300 km de performance. A tecnologia deve crescer continuamente, com inovações que melhorem a eficiência dos componentes cada vez mais. O custo das baterias já caiu bastante, tornando os veículos elétricos mais acessíveis em grande parte do mundo.

O principal atrativo por trás do conceito de mobilidade elétrica é ambiental.

Carros elétricos não criam poluição do ar local e não resultam na emissão de CO2 e são bem mais silenciosos. E se a preocupação é de onde virá toda a energia para abastecer esses carros, já existe uma resposta. Sendo consumidores de energia, os veículos elétricos criam uma nova demanda por eletricidade que pode ser fornecida com energia renovável. A mobilidade elétrica com energia renovável é uma forma eficiente de aumentar a quota de energias renováveis no setor dos transportes e mesmo nos setores de energia e na matriz energética mundial. Portanto, além da redução de emissões e da poluição do ar, a mobilidade elétrica também gera ganhos de eficiência significativos.

A expectativa é que a adoção de veículos elétricos diminua inclusive o trânsito e congestionamentos nas grandes cidades. Para esse panorama, especialistas contam com a eletrificação de transporte público e de trens de alta velocidade como substituição aos carros a combustão. Na Alemanha, a desregulamentação do sistema de ônibus de longa distância resultou em uma abertura de mercado para suas ferrovias, que são originárias de 100% renováveis e mais baratas.

E onde estão esses carros elétricos?

O mercado de veículos elétricos é bem fragmentado, concentrando-se em países que oferecem algum incentivo à tecnologia. Mais de 95% das vendas de veículos elétricos estão em apenas oito países: China, EUA, Japão, Alemanha, França, Reino Unido, Noruega e Holanda.

A China detém o maior número de veículos vendidos assim como a maior taxa de crescimento de vendas. Contudo, em termos de participação de mercado, a Noruega se destaca. No país, 29% do setor de transportes é composto por veículos elétricos. China, França e Reino Unido contam com uma porção de mercado próxima dos 1,5%.

Na América Latina, o destaque vai para a Colômbia. O país tem um plano de desenvolvimento nacional para 2018 com metas agressivas para a promoção de veículos elétricos. Os objetivos não são apenas focados nos veículos de passageiros, mas incluem a promoção de transporte elétrico de carga urbana, ônibus e transporte ferroviário. A Colômbia alcançou um número de 300 ônibus elétricos híbridos na estrada até o final de 2015.

Quanto ao número total de carros rodando no mundo, em 2015 foi ultrapassada a marca de 1 milhão de veículos, seguida pela marca de 2 milhões em 2016.

Um futuro movido a eletricidade renovável

Para que a mobilidade elétrica cause um impacto positivo, há um caminho a ser percorrido. Entre algumas das ações necessárias estão:

  1. O custo dos veículos elétricos!
    Os preços das baterias caíram cerca de 65% nos últimos cinco anos, mas os carros elétricos permanecem mais caros que os convencionais. Com melhorias de eficiência e densidade energética dos componentes, a viabilidade desses automóveis vai melhorar. O mercado a longo prazo é promissor, mesmo considerando as diferenças entre os países.
  2. Infraestrutura
    Estações de recarga e integração com e rede são os principais desafios apontados para o avanço do carros elétricos. É para esse desafio que a energia solar fotovoltaica pode ser uma solução. Algumas previsões da Agência Internacional de Energia Renovável (IRENA) mostram que nos próximos 15 anos, 120 GW de energia solar fotovoltaica poderão ser destinados somente ao abastecimento de baterias de carros elétricos. A ideia é criar estações de recarga movidas somente a energia renovável.
  3. Políticas de incentivo
    A participação dos governos na inserção de veículos elétricos em um país é fundamental. Políticas de incentivo e subsídios serão necessários para abrir caminho à tecnologia, assim como metas de longo prazo bem definidas. Na Noruega, por exemplo, foram oferecidos incentivos fiscais e existem planos de proibir a venda de motores a combustão na próxima década.

 

Mercado futuro em números

De acordo com o roteiro global de energia renovável da IRENA (REmap), em todo o mundo há um potencial para aumentar o número total de veículos elétricos para 160 milhões. É um objetivo muito desafiador, mas se alcançado proporcionaria um passo importante para aumentar a participação das energias renováveis ​​no setor de transporte. Como alvo, este total é dividido em 158 milhões de passageiros, 1,4 milhão de ônibus e 900 000 veículos comerciais.

Para os países em desenvolvimento, acredita-se que não haverá participação significativa de veículos elétricos por talvez cinco a dez anos. Parece um cenário desanimador, mas esse intervalo proporciona mais tempo para a redução de custos de tecnologia, bem como melhorias na rede elétrica e reduções nas intensidades de carbono. Em 2030, contudo, esses países  devem mostrar crescimento de mais de 60% ao ano para “recuperar o atraso”.

 

Leia também:

Retângulo cinza claro com um desneho gráfico de uma bateria similar a uma pilha, colorida de roxo escuro. Ao lado, o texto Armazenamento de energia solar: onde estamos? também está em roxo escuro. Link no post sobre veículos elétricos.

Armazenamento de energia solar: onde estamos?

Retângulo de fundo cinza com uma ilustração do planeta terra ao centro, ocupando boa parte do quadro. Sobreposta à Terra, está uma faixa laranja com três ícones: o primeiro é um sol e um painel fotovoltaico, o segundo é uma torre de transmissão do setor elétrico e o ultimo é uma tomada com um círculo de folhas ao seu redor. Link no post de veículos elétricos.

Setor elétrico, mudanças climáticas e o Acordo de Paris

 

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